CLARICE LISPECTOR



Por Wesclei Ribeiro.

Clarice Lispector, (nascida em 10 de dezembro de 1920, Chechelnyk, Ucrânia,  - falecida em 9 de dezembro de 1977, Rio de Janeiro, Brasil), é considerada uma das maiores escritoras do século XX, não apenas no contexto brasileiro, mas internacionalmente.
Sobre sua obra, os limites entre o histórico e o ficcional, entre o lugar e o não-lugar, assumem forte vínculo na poética de Clarice Lispector, sem que, equivocadamente, se estabeleçam mútuas relações de dependência. Subjacente à tessitura poética da escritora, há um laborioso processo artístico e intelectual por ela vivenciado: as narrativas clariceanas são uma experiência de vida, visto que percorrem uma trajetória comprometida com o processo de composição. Nessa “vida que se conta”, conforme compreende Nádia Batella Gotlib, a referida mistura entre o documental e o fictício pode ser verificada nas cartas da escritora destinadas a amigos escritores, tais como Lúcio Cardoso, Fernando Sabino, João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, para citar alguns, bem como às irmãs Tânia Kaufmann e Elisa Lispector. São recursos indispensáveis para examinarmos os “ingredientes dessa narrativa de vida e de obra”, haja vista que Clarice Lispector, entre as décadas de 1940 e 1950, fixou residência em Nápoles, Berna, Torquay e Washington, onde produziu romances e contos.
Embora de origem europeia, judia, marcada pela experiência de fuga enfrentada pela família no contexto da Primeira Grande Guerra (1920), Clarice Lispector considera-se brasileira, amante da língua portuguesa, como menciona nessa importante carta, assim como também revela na crônica “Esclarecimentos. Explicações de uma vez por todas”: “Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor” (LISPECTOR: 1999, p. 320). No sistema literário brasileiro, a tessitura poética clariceana assume significativa relevância na chamada “geração de 45”. A consolidação de sua enigmática poética resulta, pois, do contínuo trabalho com a linguagem e do compromisso que a escritora assumiu, em sua produção ficcional, ao estabelecer profunda reflexão acerca de seu tempo, bem como acerca das epifanias do ser em face de experiências “banais” do cotidiano, o que pode ser analisado na tensa relação entre Rodrigo S.M. e Macabéa, em A hora da estrela, obra póstuma que completa em 2017 os seus 40 anos entre gerações de leitores.

Obra:

  • Perto do coração selvagem (1943). Rio de Janeiro: Rocco, 1998a
  • O lustre (1946). Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
  • A cidade sitiada (1949). Rio de Janeiro: Rocco, 1998b.
  • Laços de família (1960). Rio de Janeiro: Rocco, 1998c.
  • A maçã no escuro(1961). Rio de Janeiro: Rocco, 1998d.
  • A legião estrangeira (1964). São Paulo: Ática, 1977.
  • A paixão segundo G.H. (1964). Rio de Janeiro: Rocco, 1998e.
  • O mistério do coelho pensante. Uma história policial para crianças (1967). 4ªed. Capa e ilustrações de Leila Barbosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
  • Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres (1969). Rio de Janeiro: Rocco, 1998f.
  • A mulher que matou os peixes (1969). 6ªed. Ilustrações de Carlos Scliar. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
  • Felicidade clandestina (1971). Rio de Janeiro: Rocco, 1998g.
  • Água Viva (1973). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
  • A vida íntima de Laura (1973). Ilustrações de Marcello Barreto de Araújo e Ivan Baptista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983.
  • A imitação da rosa (1973) 2ªed. Rio de Janeiro: Artenova, s.d.
  • A via crucis do corpo (1974). Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
  • Onde estiveste de noite (1974). Rio de Janeiro: Artenova, 1974.
  • A hora da estrela (1977). Rio de Janeiro: Rocco, 1998h.
  • Um sopro de vida: Pulsações (1978). 3ªed Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978.
  • Para não esquecer (1978). Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
  • Quase de verdade (1978). 2ªed. Ilustrações de Cecília Jucá. Rio de Janeiro: Rocco, 1981.
  • A descoberta do mundo (1984). Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
  • Outros escritos. Rio de Janeiro: Rocco, 2005.
  • Minhas queridas. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
  • Correspondências. Teresa Montero (org.). Rio de Janeiro: Rocco, 2002.
  • Programa “Panorama Especial” (vídeo). São Paulo, TV 2 Cultura, fev. 1977.

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