quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Revista da Educação - Impacto das obras de Clarice Lispector para diversas áreas (05.11.2017)

Programa Revista da Educação, da Rádio Universitária, com reportagem sobre a importância da obra literária de Clarice Lispector, com depoimentos de Rafaela Abreu e Wesclei Ribeiro, com destaque para a realização da I Jornada Clariceana que se realizará  amanhã. Estão todos convidados!

Confiram a reportagem no link a seguir:

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

“APENAS PARA PESSOAS DE ALMA JÁ FORMADA”?

Síntese de uma pesquisa clariceana
Wesclei Ribeiro Cunha

Muitos são os rótulos vinculados à escritora Clarice Lispector, de escritora genial e excêntrica a “escritora alienada”, indiferente às questões sociais. Desde o Ensino Médio, com a leitura de Laços de família para o exame do vestibular da Universidade Federal do Ceará (UFC), estes estereótipos relacionados à Literatura de Clarice Lispector incomodavam-me e, até mesmo, distanciaram-me de suas narrativas. Naquela oportunidade, eu pouco acertara a interpretação de questões objetivas sobre os seus contos, logo na primeira fase do vestibular. Relembrei esta experiência quando abri o livro A paixão segundo G.H. e li a advertência “A possíveis leitores”: “Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada” (LISPECTOR: 1998, p.7). O livro me desafiou, aquelas palavras pareciam estar destinadas para mim.


terça-feira, 12 de dezembro de 2017

"Visão de Clarice Lispector" (Carlos Drummond de Andrade)

Clarice,
veio de um mistério, partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do mistério.
Ou o mistério não era essencial,
era Clarice viajando nele.
Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,
onde a palavra parece encontrar
sua razão de ser, e retratar o homem.
O que Clarice disse, o que Clarice
viveu por nós em forma de história
em forma de sonho de história
em forma de sonho de sonho de história
(no meio havia uma barata
ou um anjo?)
não sabemos repetir nem inventar.
São coisas, são jóias particulares de Clarice
que usamos de empréstimo, ela dona de tudo.
Clarice não foi um lugar-comum,
carteira de identidade, retrato.
De Chirico a pintou? Pois sim.
O mais puro retrato de Clarice
só se pode encontrá-lo atrás da nuvem
que o avião cortou, não se percebe mais.
De Clarice guardamos gestos. Gestos,
tentativas de Clarice sair de Clarice
para ser igual a nós todos
em cortesia, cuidados, providências.
Clarice não saiu, mesmo sorrindo.
Dentro dela
o que havia de salões, escadarias,
tetos fosforescentes, longas estepes,
zimbórios, pontes do Recife em bruma envoltas,
formava um país, o país onde Clarice
vivia, só e ardente, construindo fábulas.
Não podíamos reter Clarice em nosso chão
salpicado de compromissos. Os papéis,
os cumprimentos falavam em agora,
edições, possíveis coquetéis
à beira do abismo.
Levitando acima do abismo Clarice riscava
um sulco rubro e cinza no ar e fascinava.
Fascinava-nos, apenas.
Deixamos para compreendê-la mais tarde.
Mais tarde, um dia… saberemos amar Clarice.