Conforme é desenvolvido, por Nádia
Batella Gotlib, em Clarice: uma vida que
se conta, há um laborioso processo artístico e intelectual
vivenciado por Clarice Lispector,
que percorre uma trajetória, no campo literário, comprometida com o processo de
composição:
Num universo em que o
documental e o fictício se misturam, procuro examinar como os ingredientes
dessa narrativa de vida e de obra se organizam, considerando-os na complexa
alquimia criativa em que ferve o líquido de mutações, metamorfoses,
transfigurações, cujo segredo, em última instância, parece inviolável.
(GOTLIB:1995, p.15)
No que concerne à
“complexa alquimia criativa” dos ingredientes da narrativa, âmbito da
referência cruzada entre história e ficção, desvelar o segredo aparentemente
inviolável da tessitura poética de Clarice Lispector compreende um desafio, uma
tarefa hermenêutica. Nádia Batella Gotlib não hesita em conciliar crítica
literária e ensaio biográfico, por conseguinte apresentando-nos os conflitos
inerentes à construção de uma obra questionadora em relação aos grandes dramas
provenientes do contexto em que a escritora estava inserida.